A Segunda Pandemia

A Segunda Pandemia

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A primeira pandemia começou com um bichinho invisível, que não temos absolutamente nenhum controle e colocou a população mundial dentro de suas casas. Todos tivemos que de alguma forma nos acostumar com essa nova situação. Reorganizamos nossas rotinas e hábitos para sobreviver. Renunciamos as coisas que gostamos de fazer fora de nossas casas, deixamos de encontrar pessoas queridas para proteger a vida, nosso bem mais precioso e que não tem valor material.

Falando em vida temos que falar sobre viver. A vida é tão interessante, mas só damos valor quando imaginamos que vamos perdê-la. Muitas pessoas vivem no piloto automático e como diz a música de Chico Buarque e Maria Bethânia: “a gente vai levando, a gente vai levando”. Muitas vezes, esse automático está somente em olhar para o lado de fora da janela, olhar para dentro de si pode ser um processo doloroso ou mágico ao mesmo tempo. O que tornará isso mágico é o seu processo evolutivo e a sua permissão de olhar para isso. Toda transformação passa por uma fase de negação, então está tudo certo o importante é estar aberto para fazer essa caminhada. Muitas vezes é mais fácil ficar na zona de conforto, o desconhecido nos assusta.

A primeira pandemia fez as pessoas desligarem esse piloto automático e perceberem o que está acontecendo de fato com elas. Então, começa a segunda pandemia, as doenças ligadas a saúde mental.

Uma nova situação foi apresentada e nos vimos presos em casa, algumas pessoas sozinhas, outras com suas famílias e amigos, tivemos que olhar para dentro de nós. Olhar para dentro significa olhar para as coisas que te disparam sentimentos: pessoas, lugares e fatos. Olhar para os nossos relacionamentos mais próximos: familiares e amigos, como percebemos o outro e ele reage a mesma situação que nos foi dada ou imposta. Perceber que de fato reagimos diferente dos outros porque somos seres únicos. O grande problema é que ainda julgamos o outro por ele reagir diferente de nós. Já parou para pensar como é difícil aceitar as situações inesperadas e as reações do outros? Como é difícil se colocar no lugar do outro? Como é difícil perceber como você está reagindo a tudo isso?

De quem é a culpa?

Quando não conseguimos entender o que está acontecendo dentro de nós muitas vezes passamos a terceirizar a culpa. A culpa é da China, a culpa é da economia a culpa é sempre do outro. Olhamos novamente para fora da janela. Tudo que está fora é mais fácil de administrar? Como administrar o que não temos controle? Não temos controle sobre a China, sobre a economia, sobre o outro. O que de fato temos controle? Temos tão e egoistamente controle sobre nós mesmos, sobre aceitar o que a vida apresenta, sobre viver o momento presente, sobre acordar e fazer do seu dia o melhor dia da sua vida.  Temos controle sobre sentir todas as emoções que temos que sentir. Sentiremos raiva, sentiremos medo, ficaremos tristes, alegres, felizes esse é o grande prazer da vida. Sentir tudo isso. Quando o piloto automático está ligado não percebemos nada disso e tentamos ter controle sobre o outro, impondo nossas crenças, valores, ideias e manipulando o outro para satisfazer nosso ego.

O ego outro bichinho invisível que atrapalha nosso encontro com nós mesmos, pois ele está totalmente ligado com o que olhamos pela janela. Quando olhamos para dentro o ego não existe. Temos o direito de não gostar do que o outro faz, de fazer diferente, temos a liberdade de fazer o que achamos correto para a nossa realidade. Somos seres únicos com vontades, com desejos e com opiniões diferentes. O que precisamos realmente é olhar para essas diferenças e aceitá-las. Todo processo de sofrimento começa quando não aceitamos o que nos é apresentado. Muitos de nós estão se sentindo estressados, e não apenas por causa desta pandemia e sim por tudo que ela causou. As notícias não pararam o mundo é infinitamente cheio de incertezas. A vida é uma incerteza, a única certeza que temos é a de que estamos vivos hoje neste exato momento. A incerteza gera insegurança, desconfiança, medo e raiva. Quando essa incerteza passa por uma incerteza maior que é a vida começamos a colocar na balança as coisas que realmente importam e todos os problemas que estão do outro lado da janela passam a ser minúsculos principalmente para aqueles que já ficaram internados na UTI e sobreviveram. Você precisa de uma UTI para começar a olhar para dentro?

O que dizem as pesquisas?

É seguro dizer que essa segunda pandemia traz o alerta e uma consciência para aprendermos a lidar com os nossos sentimentos diante de tanta mudança, que isso não é mimimi e que é natural e normal olhar para os nossos sentimentos. Todos devemos olhar para isso sempre, não somente quando ficamos muito mal com depressão, com Burnout ou na UTI. Estamos vivendo um momento particularmente singular que vai ficar marcado na história da nossa geração e nas gerações mais jovens. Embora a ansiedade seja sentida por pessoas de todas as idades, uma pesquisa recente do National Center for Health Statistics e do Census Bureau, descobriu que pessoas de 18 a 39 anos relatam as taxas mais altas de ansiedade e depressão nos EUA.

Uma Pesquisa da Deloitte Global 2020 Millennial, que se conectou com mais de 27.500 millennials e Gen Zs em todo o mundo, ecoa essa descoberta. Essas gerações experimentavam estresse e ansiedade diariamente antes da pandemia e, compreensivelmente, ainda estão sentindo isso.

Algumas informações da pesquisa exploraram as visões da geração do milênio e da geração Z em uma variedade de tópicos, incluindo negócios, governo, clima e a pandemia, bem como saúde mental – consistia em duas partes:

 

  • Uma pesquisa “primária” (realizada todos os anos) de mais de 18.000 millennials e Gen Zs em 43 países (incluindo os EUA, Reino Unido, Japão, Austrália, Brasil e Índia) realizada entre novembro de 2019 e início de janeiro de 2020.
  • Uma pesquisa de “pulso” de acompanhamento com mais de 9.000 indivíduos em 13 países realizada entre abril e maio de 2020. A pesquisa de pulso incluiu muitas perguntas da pesquisa primária para avaliar o efeito da pandemia nas opiniões dos entrevistados.

A pesquisa primária revelou que quase metade dos Gen Zs e da geração do milênio classificou sua saúde mental como sua primeira ou segunda prioridade na vida, com apenas a saúde física no topo da lista de prioridades. Quarenta e oito por cento dos Gen Zs e 44% dos millennials relatam sentir-se ansiosos ou estressados o tempo todo ou a maior parte do tempo, com uma proporção maior entre mulheres e pais jovens.

A geração Y e a geração Z são grande parte do mundo do trabalho de hoje, se você faz parte dessas gerações, então entende como o estresse e a ansiedade podem facilmente migrar do seu dia a dia para a escola ou local de trabalho.

Até aqui só estamos olhando pela janela. Como podemos olhar para dentro? É fundamental que os empregadores e as instituições entendam as causas do estresse sob seus telhados e forneçam recursos de saúde mental, é igualmente importante para você, aluno ou funcionário, saber as medidas que você pode tomar para melhorar sua própria saúde mental.

Mas como é olhar para dentro de si? Esse é o segundo passo, quando percebemos que ao olhar pela janela estamos sem controle dos nossos sentimentos temos que de fato parar e começar a cuidar do seu eu interior. O seu bem precioso, a sua vida, a sua saúde o que você deixou de lado para olhar pela janela. Vivemos com nós mesmos por toda vida e não damos conta do quanto é importante conhecer como reagimos as situações que são apresentadas para nós. Como tudo isso é valioso.

Dá para fazer tudo isso e não virar um buda, um alienígena ou um estranho na sociedade?

Claro, as organizações estão cada vez mais preocupadas com o bem estar das pessoas porque isso gera produtividade e consequentemente lucro. Pessoas bem resolvidas são criativas, produtivas e felizes. Quem não quer isso? Pessoas felizes não são budas, não são estranhos, são simplesmente saudáveis e felizes! Elas se preocupam com elas mesmas e por tabela fazem um bem enorme ao outro que está ao seu redor. Inspirando e ajudando o outro a crescer mutuamente.

  • Cuide de você:
1) Incorpore novos hábitos. Comece devagar com pequenas atitudes. Seja água, se adapte sem mudar sua essência, seus valores. Flua como a água de um rio que passa por várias pedras e desagua no oceano um lugar imensamente maior do que ela veio. Aventure-se nesse rio para ser algo maior. Comece pela saúde: alimentação, exercícios físicos e mente saudável (equilíbrio emocional). Cuidar de nós é uma demonstração de amor-próprio. Só posso seguir se estou bem comigo mesmo, se me aceito do jeito que sou com todos os defeitos e qualidades, pois somos seres imperfeitos. Se você não se aceita, então chegou a hora de incorporar novos hábitos para ser feliz. À medida que as organizações e escolas em todo o mundo adotam o trabalho e o estudo remotos adaptar-se a essa nova proposta requer incorporar novos hábitos, é ainda mais importante reservar um tempo para si mesmo todos os dias. O dia de trabalho ficou mais intenso com a pandemia, podemos dizer que houve um aumento significativo das reuniões e do número de e-mails enviados.

2) Estabeleça limites e dedique um tempo concentrado para recarregar. Colocar limites faz parte do processo de conscientização para o amor-próprio, em respeitar a si mesmo para depois respeitar o outro. Passeie com o cachorro, faça exercícios ou pegue um livro para uma leitura descontraída. Às vezes, isso pode significar se afastar do trabalho, e tudo bem. (Você precisa de pausas!). Tome um café. Os exercícios também são uma ótima maneira de limpar a cabeça e pode até melhorar a qualidade do sono. Experimente coisas novas, meditação, yoga ou qualquer atividade que te tire do habitual.

3) Desconecte-se, mesmo que por um breve momento: a cultura “sempre ligada” de hoje pode nos deixar com a impressão de que devemos nos esforçar e pensar sobre o que faremos a seguir o tempo todo. Pode ser difícil permanecer no momento presente quando você é constantemente bombardeado com lembretes, preocupações, expectativas e distrações que alimentam pensamentos ansiosos. Nesses momentos, pode ser útil desligar as notificações, se afastar dos computadores e deixar os telefones de lado. Praticar exercícios de atenção plena pode ajudá-lo a permanecer no presente e a sentir-se mais no controle do agora – não do que poderia acontecer amanhã. E igualmente importante é ser gentil consigo mesmo.

4) Priorize o tempo pessoal da mesma forma que priorizaria uma reunião importante.

5) Crie coragem e lute contra o estigma: a pesquisa da Deloite revela que que 44% dos millennials e 38% dos Gen Zs que faltaram ao trabalho por estresse ou ansiedade disseram não ter revelado o verdadeiro motivo a seus gerentes, falar sobre a saúde mental no trabalho ainda é um estigma. As gerações vão chegando e é perceptível que a relação hierárquica não evolui, pois existe desconforto em conversar com seus gerentes e supervisores sobre assuntos pessoais que afetam a saúde mental, por medo do julgamento e de perder seus empregos por parecer fraco ou improdutivo.

Isso acontece nos relacionamentos rasos onde a relação de trabalho é superficial. Um líder não pode inspirar pessoas sendo superficial com seus liderados. As conversas abertas e honestas só existem se tiver uma relação de confiança estabelecida. Dedicar um tempo para construir relacionamentos com seu gerente e colegas diretos é também uma das tarefas do dia a dia no trabalho. Construir relacionamentos (virtualmente ou pessoalmente) é importante em qualquer ambiente social (trabalho, casa, clube, academia, condomínio).

Reconhecer e falar sobre sua saúde mental, sentimentos e medos não é uma fraqueza é um ato de coragem e de reconhecimento das suas vulnerabilidades. Todos somos vulneráveis, qual é o problema? Não precisamos colocar um outdoor das nossas vulnerabilidades apenas temos que estar confortáveis em conversar sobre elas com as pessoas mais próximas, seja no trabalho com nossos superiores ou pares, amigos e familiares. Se precisar consulte um terapeuta, uma pessoa neutra fora do problema que pode te ajudar a ver por um outro ângulo.

Construir uma rede de apoio é uma via de mão dupla. Contar sua própria história pode ter um impacto positivo nos outros, você pode dar o primeiro passo para estabelecer uma relação de confiança com o outro. As pessoas se conectam com histórias, qual é a sua? Conte para nós!

Namastê.

Nota do Editor: Algumas informações deste artigo foram tiradas do artigo: Make Mental Health Your #1 Priority by Emma Codd, September 21, 2020

As opiniões expressas aqui são apenas para fins informativos gerais. Se você tem dúvidas sobre um transtorno de ansiedade, recomendamos que consulte um profissional médico.